quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Não. Não é no MEU tempo.


Sim, fico tempos sem vir aqui.
Não. Não sou uma escritora "normal".

Não é segredo que não me sinto "normal".
Também não é segredo o quanto eu gostaria de me sentir  assim.
Não é segredo que a dor extrai da minha alma um som ou poesia, que, de uma maneira ou outra, acaba tocando outras almas.
Também não é segredo que minha alma não escolhe seus sons e poesias.
Quando a dor faz seu trabalho, apareço por aqui.

Mas às vezes, eu me perco...
Em momentos, me perco pensando que não estou me dedicando como deveria para que novos e elaborados sons e poesias viessem, enfim.
Então, logo me lembro que não sou eu quem controlo QUANDO ou COMO vêm esses sons ou poesias.
Não. Não é no MEU tempo.
Em outras vezes, penso que, por mais belos que sejam os sons e as poesias, eu nem gostaria de tê-los, já que preciso da dor para que eles venham.

As pessoas não entendem.
Para algumas, é um "drama desnecessário".
Mas não posso esperar que entendam.
Não espero que você me entenda, caro leitor.
Só a alma que toca outras almas entende o processo.
Só a alma que nasceu assim... Detalhista, sensível, intensa.... Poeta.
Só essas almas não julgam "o drama desnecessário" da melancolia.

Não. Não é no MEU tempo.
O drama da melancolia gira em torno, exatamente, do TEMPO.
Já vieram sons e poesias sobre ele.
Já cantei, escrevi e ensinei que ele é AMIGO.
O problema é que a visão embaça, ao olhar em volta e ver TUDO acontecendo para os outros, e nada acontecendo, por um bom tempo... pra mim. Quando isso acontece, a amizade do tempo é sufocada pela aguda dor da ESPERA.

E aí, se torna um problema não saber lidar com a espera MAIS UMA VEZ.
Se torna um problema voltar a não aceitar a "anormalidade" da vida da alma poeta.
Porque as pessoas "normais"... vêem a vida passar e tudo seguir uma rotina tão lógica e simples.
As pessoas "normais", em sua maioria, parece que nem se preocupam com o tempo.
Elas simplesmente vivem as coisas e nem estavam esperando por elas.
Outras nem queriam o que vivem. Não planejaram o que vivem.
Mas vivem. De uma maneira assim...  "normal".
A natureza é assim... Tem um curso... "normal".

Mas para as almas poetas... Não existe "maneira normal".
Nem a natureza se mantém "normal".
Intensidade na espera.
Intensidade na emoção.
Intensidade na entrega dos sons e das poesias.

Não. Não é no MEU tempo.
Portanto, aos cobradores de plantão...
Vamos esclarecer...
Não. Eu não componho QUANDO quero.
Não. Eu não gravo CD QUANDO quero.
Não. Eu não escrevo QUANDO quero.
Não. Eu não fui amada QUANDO eu quis.
Não. Eu não me casei QUANDO eu quis.
Não. Eu não fui mãe QUANDO eu quis.
Sim. A dor trabalha em mim.

Não. Não é no MEU tempo.
Sim. Dói não ser no MEU tempo.
Sim. Dói não ter o controle do tempo.
Não. Eu não posso ter o controle de nada.

Porque o controle eu entreguei.
Talvez eu não soubesse que seria doloroso.
Mas quando penso lucidamente na dor do Maestro a quem entreguei o controle...
Me envergonho, quando olho para aquilo que chamo de dor.
Por vezes, eu não quero a dor.
Por vezes, eu quero apenas GANHAR o que tanto espero.
E quando a espera começa a me sufocar, eu PRECISO apenas me lembrar...

Que, pelas leis do meu Maestro...
Quem PERDE é quem ganha.
Quem SOFRE é quem ama.
Quem  SERVE é maior.
Quem DEPENDE vive o melhor.

Não. Não é no MEU tempo.
Nunca foi. Preciso entender que NUNCA será.
E mesmo que a dor da espera nunca me abandone...
Eu nunca me arrependerei.
Continuarei a amar. Cantar. Escrever. Ensinar...
Que... Não. Não é no NOSSO tempo.

O Maestro manda.
Eu me submeto. Ainda que aos prantos, rastejando, ou mesmo em pedaços.
ELE FOI PARTIDO POR MIM.
Ele é meu Rei.
A música da minha vida... é dEle... pra Ele... por causa dEle.
ELE soube o que é padecer.
E só ao olhar para Ele, a melancolia se vai.
A esperança vem. Os sons e as poesias chegam.
Mais uma marca da dor fica.

Não. Não é no MEU tempo.

"...há um tempo determinado para todas as coisas debaixo do céu..."
(Eclesiastes 3.1)